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'Invasão silenciosa': mais de 30 espécies exóticas ameaçam equilíbrio da Baía de Todos-os-Santos
08/06/2025
(Foto: Reprodução) Avanço das espécies na Bahia colocam em risco a pesca artesanal, parte importante da economia, sobretudo para subsistência de pescadores e marisqueiras. Mais de 30 espécies exóticas ameaçam equilíbrio da Baía de Todos-os-Santos
Trinta e seis espécies exóticas invasoras, que ameaçam o equilíbrio ambiental, foram identificadas na Baía de Todos-os-Santos (BTS), na Bahia, por pesquisadores do Programa Ecológico de Longa Duração dos Ecossistemas Marinhos da BTS. O g1 listou as quatro que mais causam preocupação.
💡 A Baía de Todos-os-Santos é a maior do Brasil e segunda maior do mundo, com 1.180 km de praias e uma área de 1.233 quilômetros quadrados, que equivale a quase o dobro do tamanho de Salvador. Ela é composta por 56 ilhas e engloba 16 municípios, incluindo a capital baiana.
Onde fica a Baía de Todos-os-Santos
Arte g1
Na região, uma força-tarefa formada por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Secretaria de Meio Ambiente da Bahia (Sema) e da ONG Promar monitora a evolução dos organismos que não fazem parte da biodiversidade da região.
Segundo os especialistas, ainda não é possível mensurar os impactos causados por algumas espécies já estabelecidas no mar; a essas cabe apenas o controle. Já outras — como coral-sol, coral-mole, siri-bidu e peixe-leão — são as que mais afetam os ecossistemas locais e têm impactos mais claros.
Essas quatro espécies também colocam em risco a pesca artesanal, parte importante da economia, sobretudo para subsistência de pescadores e marisqueiras.
Quem são os animais exóticos invasores que ameaçam a Baía de Todos-os-Santos.
Arte g1
De acordo com Tiago Porto, diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, a introdução de espécies invasoras exóticas na Baía ocorre principalmente de forma acidental. Veja como isso acontece:
Transporte por navios: a maioria dessas espécies chegou à Baía por meio de embarcações que trafegam pela região.
Fixação nos cascos: elas viajam presas aos cascos dos navios, facilitando sua dispersão para novos ambientes.
Plataformas de petróleo: algumas espécies também são transportadas em estruturas como plataformas marítimas.
Correntes marinhas: no caso específico do peixe-leão, a dispersão ocorre pelas correntes oceânicas.
Há também espécies como os corais-azul e marrom que, segundo o professor doutor Igor Cruz, da Universidade Federal da Bahia — pesquisador de recifes da Baía de Todos-os-Santos desde 2007 —, foram propositadamente introduzidas no local por aquaristas, pessoas que criam peixes, plantas e outros organismos aquáticos em aquários ou tanques, seja por fins ornamentais ou de estudo.
A maioria dessas espécies foi avistada na cidade de Porto Seguro, no extremo sul do estado, em Gamboa do Morro, pequeno vilarejo de pescadores pertencente ao município de Cairu, e nas regiões do Porto da Barra, Vitória e Boa Viagem, na capital baiana.
“Chegam, se instalam rápido e começam a se espalhar com uma velocidade muito maior do que as espécies nativas conseguem suportar”, explicou o professor Igor Cruz.
Corais invasores: o sol e o mole
Duas das espécies que mais colocam em risco espécies nativas e preocupam os pesquisadores são o coral-sol (Tubastraea spp.) e o coral-mole (Chromonephthea braziliensis). Ambos são organismos exóticos que se proliferam em diferentes pontos da Baía, como recifes rasos, naufrágios e até estruturas artificiais.
Coral-sol é uma das espécies invasoras exóticas registradas na Baía de Todos-os-Santos
Igor Cruz
Coral-sol: com coloração alaranjada vibrante, é original do Indo-Pacífico e já é considerado uma das piores espécies invasoras marinhas localizadas no Brasil. Os riscos são:
Libera substâncias químicas que prejudicam indivíduos de outras espécies que estejam em contato direto.
Cresce sobre rochas e esmaga corais nativos. Ocupa também locais onde normalmente cresceriam algas, esponjas e organismos que fazem parte da dieta dos peixes.
Peixes deixam a região por falta de alimento. Isso impacta diretamente a pesca local.
"É muito eficiente e agressivo nessa competição. A gente testou isso com algumas espécies nativas e ele acaba matando a maioria das que estão próximas dele", diz.
Coral-mole: identificado recentemente na costa da Ilha de Itaparica, embora menos conhecido, também apresenta crescimento agressivo.
“Em poucos meses, forma um tapete espesso que toma conta de toda a estrutura onde se instala”, contou o professor Igor Cruz.
Em uma das ações promovidas pela ONG Promar, Sema e pesquisadores, entre os dias 16 e 20 de maio, foi retirada mais de uma tonelada de coral-mole entre a Ilha de Itaparica e a região de Praia do Forte, no litoral norte da Bahia.
“O recife deixa de ser um ambiente diverso para virar um deserto dominado por uma única espécie”, completou .
Siri-bidu: o 'destruidor' de manguezais
Outro protagonista da mudança silenciosa dos ambientes é o siri-bidu (Charybdis hellerii), um crustáceo originário da costa atlântica norte-americana. Com hábitos considerados vorazes e escavadores, ele tem afetado os estuários da Baía.
Siri-bidu ao lado do coral-mole
Igor Cruz
A presença do crustáceo já ocupou amplamente a Baía de Todos-os-Santos, inclusive é capturada pela comunidade pesqueira assim como as espécies nativas, apesar de ser identificada como invasora exótica.
"Metade da produção pesqueira da Bahia de Todos-os-Santos está associada ao siri. Ou seja, é uma biomassa pesqueira muito elevada e o siri-bidu já faz parte desse processo de pesca", detalhou o professor José Amorim Reis Filho, integrante do programa ecológico que pesquisa os ecossistemas marinhos na Ufba.
Apesar de não existir um programa de monitoramento ou estudos detalhados sobre os impactos causados apenas por esta espécie, já foi identificado que ela:
Transmite doença para camarões.
Se alimenta da matéria orgânica.
Compete com espécies nativas por alimento e abrigo.
Peixe-leão: belo, venenoso e perigoso
Peixe-leão invade a Baía de Todos-os-Santos
Michael Gäbler/ Wikimedia Commons
Os pesquisadores e pescadores também estão em alerta com o peixe-leão (Pterois volitans). Com espinhos venenosos e aparência chamativa, já foi registrada na Baía de Todos-os-Santos e apresenta vários riscos. São eles:
População cresce rapidamente. Se reproduz muitas vezes ao ano e consegue gerar milhares de ovos e larvas durante os processos reprodutivos.
Na fase adulta ele pode alcançar até 47 cm com 18 espinhos venenosos.
Potenciais predadores não o reconhecem como presa, por não ser uma espécie nativa.
Se alimenta desenfreadamente, o que pode causar colapso em algumas cadeias alimentares.
Espécie invasora também pode ser perigosa para seres humanos que a toquem acidentalmente. Dependendo da quantidade de peçonha na pele do indivíduo, pode causar alterações de pressão arterial, parada cardíaca e infecção.
Na Baía de Todos-os-Santos, foram notificados, até a publicação desta reportagem, cinco indivíduos de peixe-leão em idade adulta e reprodutiva, segundo a Sema. Eles foram avistados na região de Morro de São Paulo, Baixo Sul do estado, e em Salvador.
Até então, não existe um programa de monitoramento específico para detectar a espécie. Os registros feitos são considerados pontuais e eventuais.
A Sema informou que a bioinvasão da espécie é muito recente na Bahia, e que iniciou a elaboração dos "Protocolos de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida". Além disso, oficinas serão realizadas no segundo semestre de 2025 para a elaboração de um documento de forma conjunta e participativa.
Mudanças climáticas e ação humana
Os especialistas afirmam que o movimento também está ligado ao aquecimento das águas, à intensa circulação marítima internacional e às mudanças nos ecossistemas costeiros causadas por poluição, urbanização e alterações climáticas.
"As mudanças climáticas estão afetando os ecossistemas e as espécies de várias formas. Os impactos estão muito acentuados pelas questões climáticas e tudo isso pode favorecer a expansão das áreas de ocorrência das espécies invasoras", explicou diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, Tiago Porto.
Como combater as espécies exóticas invasoras na Baía de Todos-os-Santos
Arte g1
A remoção das espécies segue protocolos de manejo estabelecidos pela Sema, e a identificação delas é feita por parceiros como professores da Ufba e a ONG Promar. A presença delas acende um alerta na Baía de Todos-os-Santos, mas a comunidade pesqueira tem um papel importante.
“O pescador é o primeiro a perceber quando algo muda no mar. É ele quem pode nos ajudar a monitorar e agir rápido. Mas é preciso dar estrutura, formação e apoio para isso”.
O que fazer se encontrar um animal exótico invasor
Para evitar o avanço das espécies nas regiões, equipes da Secretaria de Meio Ambiente começaram a organizar, em 2023, um plano de resposta à bioinvasão. As orientações são:
Não mate e não faça a retirada.
Entre em contato pelo e-mail peld.bts@gmail.com.
Para a pessoa ficar apta a realizar a remoção da espécie, deve-se protocolar um pedido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com a indicação da espécie a ser removida e da tecnologia que será utilizada.
"O Ibama vai fazer uma avaliação dos riscos ambientais da estratégia, porque pode ser que a boa intenção de remover aquela espécie possa causar um impacto ambiental ainda maior, se não for feita da maneira correta", explicou o diretor de políticas e planejamento ambiental da Sema, Tiago Porto.
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Os especialistas afirma que o movimento está ligado ao aquecimento das águas.
Igor Cruz
Os especialistas afirma que o movimento está ligado ao aquecimento das águas.
Igor Cruz
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